Colaboração para Splash, em São Paulo
05/06/2024 18h16…

 

O Sated-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro) emitiu nota de repúdio contra o Globoplay, plataforma de streaming do Grupo Globo, por usar inteligência artificial na dublagem do documentário “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447”.

O que aconteceu

Sindicato destacou que o Globoplay preteriu o trabalho de dubladores nacionais. Em nota divulgada nesta quarta-feira (5), o órgão disse “expressar sua profunda indignação e repúdio” a essa decisão da empresa, que optou por utilizar inteligência artificial para dublar o documentário, “empregando vozes autorizadas das próprias pessoas envolvidas na tragédia”.

Sated-RJ afirmou que a empresa agiu de forma desrespeitosa e optou pela IA por questões “exclusivamente econômicas”. “Isso representa um desrespeito inaceitável aos profissionais de dublagem, que se dedicam a essa arte com talento e sensibilidade. Ao optar por uma solução tecnológica em detrimento dos dubladores, a Globoplay não apenas prejudica esses trabalhadores, retirando-lhes oportunidades de emprego, mas também compromete a qualidade do produto final oferecido ao público”.

Órgão que defende os direitos dos dubladores ressaltou a necessidade de experiência e capacidade de interpretação, que apenas a voz humana consegue imprimir. “Substituir essa competência humana por inteligência artificial desvaloriza a profissão e entrega um resultado de qualidade inferior, prejudicando a experiência do espectador”.

Ainda, o Sindicato disse “exigir” que a empresa repense o uso de inteligência artificial para produtos que necessitam de dublagem. “Exigimos que o Grupo Globo reveja suas políticas e passe a valorizar os profissionais que contribuem de maneira essencial para a excelência das produções audiovisuais brasileiras. O respeito aos dubladores é fundamental para a manutenção da qualidade e integridade da nossa indústria”.

Splash entrou em contato com a Globo para pedir um posicionamento, mas não obteve retorno. Anteriormente, a empresa afirmou que “realizou testes e desenvolveu soluções internas que estão em experimentação e uso” antes de dublar produções com o uso de inteligência artificial, afirmando que esse processo acontece “sempre de forma ética, com transparência, buscando a qualidade e respeitando a questão dos direitos.”

“Foi o que aconteceu, por exemplo, em Rio-Paris: cumprimos o compromisso assumido com algumas empresas de dublagem de não utilizar as vozes de seus dubladores através de processos de IA ou para o treinamento de IA”, completou a comunicação da emissora na ocasião.

O uso de IA na dublagem ainda não é regulamentado no Brasil. O movimento “Dublagem Viva”, que reúne profissionais do setor, luta pela criação de regras no uso da tecnologia.

Entenda o caso

A Globoplay escolheu dublar “Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447” usando IA. O aviso sobre a narração está no início da série documental, que tem quatro episódios.

Opção por trocar dubladores profissionais pela tecnologia teve uma repercussão negativa. Nas redes sociais, muitos espectadores questionaram a depreciação da classe profissional e a qualidade ruim da dublagem artificial.

“Tragédia do voo 447” retrata o acidente com o voo da Air France. O documentário foi lançado exatamente 15 anos depois da tragédia, que deixou 228 mortos. O documentário tem quatro episódios e está disponível na Globoplay.

Produção foi gravada na França, Estados Unidos e Brasil por três meses. No início dos episódios, é exibido o aviso de que entrevistas concedidas em outras línguas foram dubladas com IA.

Série entrevistou técnicos que participaram das investigações, especialistas em aviação, jornalistas que cobriram o caso e parentes das vítimas. Ela traz a investigação da queda do avião, o drama das famílias destroçadas pela tragédia e o que mudou na história da aviação após o desastre.

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