Para entender o período de democratização política do Brasil o indivíduo pode estudar livros, reportagens históricas, ouvir relatos de quem vivenciou a época ou até mesmo pesquisar as manifestações artísticas que movimentaram o período. No caso da última opção, basta dotar um olhar mais atento a um palco específico que, desde a sua fundação, em 1966, abrigou o que houve de mais atuante em favor da igualdade social, no cenário das artes do País: o Café-Teatro Casa Grande, atualmente Oi Casa Grande.

Omissão definitivamente passou ao largo do Casa Grande. No ápice da ditadura militar, o teatro abrigou espetáculos de contestação como as polêmicas revistas de Oduvaldo Vianna; “A Mandrágora”, de Maquiavel; “Brasileiro: Profissão Esperança”, de Paulo Pontes; e o repertório de “Calabar”, peça censurada de Chico Buarque. Por sinal, foi no Casa Grande que Chico Buarque apresentou pela primeira vez  “Ana de Amsterdam”, “Bárbara” e “Tatuagem”. Foi também em uma obra de Chico, em parceria com Ruy Guerra, que o Casa Grande deu mostras de que não baixaria a cabeça para o regime militar, em um fato inédito e inusitado: pela primeira vez o cenário de uma peça teatral, no caso “Fado Tropical”, fora proibido pela censura. O cenógrafo Helio Eichbauer foi informado da proibição na véspera da estreia e, sem muito tempo para modificações, virou o cenário original ao contrário. Resultado: o público aplaudiu de pé. “A censura imposta pelos órgãos de segurança era um dos maiores incômodos”, explica Haus. “Sofremos ameaças de fechamento do teatro e todo tipo de retaliação. Havia intimidações por telefone, ameaças de bomba”, lembra Moysés Ajhaenblat.

Se os espetáculos encenados atualmente não tem mais o vigor puramente político dos áureos tempos, talvez seja reflexo de uma sociedade descrente com o rumo político do País após tanta luta e pouco progresso. Ainda assim, o grande palco da democracia brasileira continua fazendo a sua parte de questionar e entreter com maestria.

O histórico Teatro Casa Grande está ameaçado de desaparecer. O TCE mandou suspender, em cima da hora, licitação da Secretaria de Cultura que abria a possibilidade de transformação do espaço do Casa Grande em outra coisa que não a teatral, que é tombada por lei. Cheio de exigências, o edital ainda falava da necessidade de submeter a programação dos espetáculos à aprovação prévia do governo do estado. Em um ato de censura.

Matéria publicada no Segundo Caderno do Jornal O Globo traz mais informações sobre o contestado edital. Seremos resistência em nome do atividade teatral e da cultura não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil, que vem sofrendo duros golpes de censura e abandono!

https://oglobo.globo.com/cultura/teatro-oi-casa-grande-tem-futuro-indefinido-apos-imbroglio-com-edital-de-ocupacao-24177949

Vida longa ao teatro brasileiro !